Exposição da banca ao sector imobiliário atinge ainda níveis elevados.
A avaliação completa do sistema bancário realizada pelo BCE e a inspecção do Banco de Portugal assumem particular relevância. Os bancos deverão reduzir a sua exposição a este setor, aproveitando, designadamente, a recuperação observada nas condições do mercado imobiliário.
Consulte aqui o Relatório de Estabilidade Financeira • maio 2015 do Banco de Portugal
Concentração no setor imobiliário
A exposição do setor financeiro ao setor imobiliário continua a ser elevada, o que o torna particularmente sensível a flutuações no valor desse tipo de ativos. A possibilidade de ocorrerem desvalorizações dos ativos imobiliários constitui um risco, na medida em que estas desvalorizações têm repercussões negativas na rendibilidade e no capital das instituições. No caso dos bancos, a exposição assume diversas formas, como sejam a detenção de imóveis (por exemplo, recebidos em reembolso de crédito próprio) e a participação em fundos de investimento imobiliário e de reestruturação. Acresce a exposição derivada do crédito concedido a setores relacionados com atividades de construção e imobiliária, bem como das garantias imobiliárias associadas à concessão de crédito, nomeadamente a particulares para aquisição de habitação.
No final de 2014, o sistema bancário português detinha, para alienação, ativos imobiliários no valor de cerca de oito mil milhões de euros (bruto de imparidades), o que compara com aproximadamente 800 milhões de euros no final de 2007. Estes ativos correspondiam a 1,9 por cento do ativo total no final de 2014 (0,2 por cento em 2007) (Gráfico 61). A exposição a unidades de participação emitidas por Fundos de Investimento Imobiliário (FII)31 e de reestruturação de crédito aumentou significativamente nos últimos anos. O peso das unidades de participação em FII no ativo total dos bancos passou de 0,3 por cento no final de 2007 para 1,2 por cento no final de 2014. Nesta data, a exposição ascendia a cerca de cinco mil milhões de euros, representando 40 por cento do total de unidades de participação emitidas pelos FII (14 por cento no final de 2007). Note-se que o stock total de unidades de participação dos FII no final de 2014 era cerca de 12 por cento superior ao de 2007 (respetivamente, cerca de 12 e 11 mil milhões de euros). A exposição total dos bancos a FII distribuía-se entre fundos abertos e fechados, atingindo 2,1 e 2,9 mil milhões de euros no final de 2014, ou seja, 46,3 por cento e 37,0 por cento do total de unidades de participação emitidas pelos FII abertos e fechados, respetivamente.
A maior proporção de unidades de participação detidas em FII abertos prende-se com o facto de estes serem mais facilmente transacionados e resgatados, o que implica que, em caso de desvalorização, e para prevenir efeitos reputacionais, dada a estreita ligação existente entre os fundos de investimento e o sistema bancário, este último tenda a substituir-se a outros setores na detenção destes ativos. Os créditos transferidos pelos bancos para fundos de reestruturação de crédito totalizavam cerca de quatro mil milhões de euros no final de 2014 (um por cento do total do ativo dos bancos), tendo aumentado na ordem de 40 por cento entre março de 2013 e o final de 2014.
Estas transferências continuam a corresponder maioritariamente a créditos concedidos aos setores de atividades imobiliárias, alojamento e construção32. Os valores do stock de imobiliário detido pelas instituições bancárias e da sua exposição a FII e a fundos de reestruturação mantiveram-se, durante o segundo semestre de 2014, perto dos valores registados no final do primeiro semestre de 2014, indicando uma estabilização da exposição ao setor imobiliário por esta via. O saldo de crédito bancário com garantias imobiliárias concedido a particulares e a sociedades não financeiras, no final de 2014, representava 86 e 32 por cento do montante total do crédito bancário concedido a particulares e a sociedades não financeiras, respetivamente (26 e seis por cento do ativo total).
inBanco de Portugal – Relatório de Estabilidade Financeira • maio 2015